Algo importante, mas pouco comentado por estas terras, é o excesso de óbitos ao longo da pandemia comparado com os óbitos oficialmente atribuídos à Covid.
Eis aqui um infográfico que sintetiza os países com maior excesso relativo (e também o índice de óbitos por Covid oficialmente registrado). Notem que, quanto maior a barra, pior foi a qualidade dos registros de mortalidade.

O excesso de óbitos é a diferença entre os óbitos esperados (calculados por via estatística, com base no histórico dos últimos 5 ou 10 anos) e os óbitos que realmente ocorreram.
Diferente de doenças normais, que são contabilizadas num índice relativo por ano, para pandemias é de praxe considerar o índice relativo acumulado ao longo da sua duração total (que pode ser de vários anos).
Vale lembrar que, para os epidemiologistas, o real saldo de uma epidemia ou pandemia é o excesso de óbitos – por vários motivos:
- Em situações de saturação do sistema do registro de mortalidade, é esperado que exista uma queda na qualidade dos registros. Nem todos os óbitos são atribuídos às causas corretas. Isto é um problema histórico conhecido.
- Há países com sistema de registro de mortalidade muito ruim mesmo em épocas normais (vide Índia, África subsaariana). Nestes, o excesso de óbitos não é medido diretamente (via total de óbitos), mas estimado por via estatística.
- Por outro lado, há países com bom sistema de registro de óbitos (Rússia, China), mas que optaram em artificialmente manter seus índices por Covid baixos. No caso da Rússia, é até possível chegar ao total de óbitos; já no da China, não. Para efeito de harmonização e comparabilidade, os dados considerados aqui são as estimativas do excesso, não a contagem.
- Mesmo eventuais aumentos de óbitos contabilizados em outras causas que não a doença em surto epidêmico são considerados como sendo causados indiretamente pela doença.
Um ponto digno de nota é o quanto os registros de óbitos atribuídos à Covid no Brasil são relativamente próximos ao índice de excesso (parecido ao dos EUA) – sinal de um sistema com boa qualidade de dados.
Vale uma observação importante: os dados acima se referem ao índice cru (óbitos/100 mil habitantes). Para uma comparabilidade melhor, o ideal seria harmonizar todos eles pela idade (devido aos perfis demográficos muito diferentes entre países da lista – já que a Covid matava proporcionalmente mais os mais idosos) – mas este é um nível de detalhamento infelizmente indisponível quando usamos o excesso de óbitos estimado (já para o excesso de óbitos contado, é possível, mas teríamos uma lista bem mais restrita de países).
Vale também lembrar que os dados usados vieram de um dos melhores repositórios de dados existentes na atualidade, o Our World in Data: