Análise Correios – até 09/2025

Bora falar da nossa estatal favorita!

Na semana passada saiu o resultado do Correios até setembro de 2025, e para surpresa de zero pessoas veio um prejuízo gigantesco:

R$ 6,06 bilhões em 9 meses.

Vamos colocar em perspectiva.

No acumulado até set/2024, o prejuízo era R$ 2,13 bilhões.

No acumulado até set/2025, o prejuízo passou para R$ 6,06 bilhões.

Este valor é 2,34x superior ao prejuízo ANUAL de 2024.

De 2023 a 09/2025, o prejuízo acumulado é R$ 9,3 bilhões.

A queda nas receitas do segmento Internacional continua forte – 64,5% de queda no comparativo entre períodos, o que dá cerca de R$ 2 bilhões.

Lembrando: este impacto começou a aparecer de forma mais acentuada já no 1o trimestre de 2025.

A queda na Receita Líquida ficou em 12,3% (-R$ 1,8 bi), devido à estabilidade de Encomendas e um crescimento pequeno no segmento de Mensagem (+6%).

Apesar da queda de 12,3% nas receitas, os Custos não acompanharam:

A redução foi de apenas 1,3%, o que levou a Margem Bruta a cair para 5,4%.

No mesmo período do ano passado, a Margem Bruta era 16,3%.

Preocupante.

Abrindo os Custos, quase todos apresentam redução, e quase todos com redução em linha com a queda da Receita Líquida, exceto um:

Custos com Pessoal: aumento de 6,9% (+ R$ 529 milhões).

As Despesas com Vendas e Serviços tiveram um aumento de 13,1%, especialmente em remuneração de unidades terceirizadas e provisões de perdas.

Uma despesa que caiu no comparativo entre períodos (e que sempre gera barulho):

Patrocínio, propaganda e publicidade – queda de 85,9% (-R$ 19,4 milhões).

As Despesas Gerais e Administrativas do Correios tiveram um crescimento de 53,5% no comparativo dos 9M 2025 em relação ao mesmo período do ano passado.

O destaque não é surpresa:

Precatórios, um aumento de 337% (+R$ 1,63 bilhão).

Para entender melhor isso, é necessário ir na Nota Explicativa 11.4.

Primeiro: nem todo este aumento tem efeito IMEDIATO no caixa.

A empresa reconhece isso no Passivo quando o tribunal emite a ordem de pagamento, e atualiza monetariamente até a liquidação.

Isso vai aparecer no Balanço Patrimonial e na Demonstração de Fluxos de Caixa (DFC).

O problema: não ter efeito IMEDIATO no caixa não significa que nunca afeta o caixa.

Conforme estimativa do próprio Correios, em 2025 haverá o pagamento de R$ 990 milhões em precatórios e RPVs.

Em 2026, o valor estimado (até agora) é de R$ 1,25 bilhão.

Em Outras Receitas, o maior destaque é a Reversão de Provisão de Contingências, que também se refere a precatório (R$ 313 milhões).

Ainda assim, isso não é suficiente para compensar o aumento de outras despesas, e o aumento geral de Despesas do Correios foi de 36%, um aumento de R$ 1,5 bilhão em relação aos 9M 2024.

Com isso, o prejuízo operacional dos Correios foi de R$ 5,14 bilhões nos 9 meses de 2025, um aumento de 161,6% (+R$ 3,18 bilhões) no prejuízo operacional.

E nem chegamos no resultado financeiro ainda.

Nenhuma surpresa no Resultado Financeiro.

O valor recebido em juros de aplicações segue caindo, porque a reserva de caixa secou (tem R$ 6,7 milhões em aplicação).

Juros e Multas tiveram um acréscimo de R$ 448,7 milhões entre períodos – sintoma claro da deterioração financeira dos Correios.

Além disso, dívida custa: R$ 156,9 milhões em juros até 09/2025.

E assim, chegamos ao prejuízo dos Correios de R$ 6,06 bilhões em 9 meses de 2025.

Um aumento de R$ 3,9 bilhões (+183%) em relação ao mesmo período de 2024.

MAS NÃO ACABOU, PORQUE MISÉRIA POUCA É BOBAGEM!

BORA DAR UMA OLHADA NO FLUXO DE CAIXA!

Olhando de bate pronto, nem parece ruim, né?

“Olha aí, teve isso tudo de prejuízo, mas o FCO ficou negativo só em R$ 290 milhões…”

Acontece que não é assim.

Não tem mágica, e eu explico porque.

Os principais “geradores de caixa” dos Correios são passivos operacionais que a empresa está atrasando, ou que gerarão compromissos futuros.

Entre o que são atrasos: Fornecedores, Salários e Encargos, Impostos e Contribuições e Convênio Postal Saúde somam R$ 3,2 bilhões.

“QUEM DISSE QUE É ATRASO?”

A própria empresa diz que está programando pagamentos “de acordo com a disponibilidade financeira da companhia”.

Nota Explicativa 8 e seguintes, só ir lá ver.

A outra conta expressiva vem dos Precatórios.

Como eu falei acima, isso é reconhecido agora em resultado, registrado no balanço, mas só será pago no futuro.

O aumento do passivo operacional representa uma geração de caixa para a empresa – no caso, o DFC mostra R$ 1,8 bilhão.

Os outros fluxos mostram o seguinte:

Correios não está em ritmo forte de investimento (nem tem dinheiro para isso).

O FCI mostra R$ 162 milhões de investimentos líquidos.

Correios está captando dívida – para ser preciso, R$ 1,8 bilhão.

O FCF mostra que parte já foi paga, e o caixa líquido gerado pelas atividades de financiamento foi de R$ 791,4 milhões.

TÁ NO FINAL.

Aqui a tabela dos empréstimos atuais no balanço do Correios.

O pior aqui é o seguinte:

O perfil da dívida é muito ruim.

Os empréstimos são todos de curto prazo – dois vencem este ano, e o mais longo vence em 11/2026.

Além disso, segundo cálculo do próprio Correios, o maior empréstimo também tem uma taxa de juros bem alta.

Na nota explicativa, a empresa menciona que a taxa efetiva estimada da operação pode chegar a 25,67% ao ano.

Pois é.

RESUMO DA ÓPERA DOS CORREIOS:

O prejuízo cresceu (mais) – R$ 6,06 bilhões.

A receita caiu.

Os custos não cederam. As despesas também não.

Os precatórios explodiram.

O caixa só se segura porque a empresa está empurrando as contas e assumindo dívidas caras (e com prazo curto).

Por enquanto, se há luz no fim do túnel, tudo indica que é o trem.

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