Apesar de estarmos quase em julho, semana passada fui olhar os resultados trimestrais dos Correios.
Dada a evolução no ano passado, eu não tinha grandes expectativas, mas não esperava o que vi:
O prejuízo mais que dobrou comparando com 1T2024.

O prejuízo do Correios no primeiro trimestre de 2025 foi R$ 1,73 bilhões.
Isso é 115% a mais do que o mesmo período de 2024, quando o prejuízo foi de R$ 801,2 milhões.
Um aumento de R$ 924 milhões no prejuízo é preocupante – mas tem mais.

Para ter uma ideia de proporção: o prejuízo de 3 meses é 66,6% do prejuízo TOTAL de 2024.
E a piora não para por aí.
O Correio começou 2025 com Margem Bruta negativa.
Ou seja: o faturamento não é nem suficiente para cobrir o custo do serviço prestado.

Essa queda de Margem Bruta tem duas origens, e no caso dos Correios as duas aconteceram juntas:
Queda na Receita e aumento nos Custos.
Vamos dividir a análise.
A Receita Bruta caiu 11,4%, puxada principalmente por queda nas receitas classificadas como Internacional – uma queda de 58,4% (R$ 552,3 milhões).
Essa queda, sim, faria sentido ser por conta de programas como Remessa Conforme e “Taxa das Blusinhas”.
Tem uma questão de prazo aí a ser considerado, que alguém do ramo pode esclarecer melhor.
Considerando só Internacionais:
A queda 1T2024 vs 1T2023 (portanto depois da Remessa Conforme) foi de 3,6%.
A queda do anual 2024 vs anual 2023 (portanto depois de RC e do aumento da Taxa das Blusinhas) foi de 12%.
Ou seja: aparentemente o impacto será maior em 2025.

Depois disso, tem os Custos.
Apesar da queda de 12,3% na Receita Líquida, os custos aumentaram em 3,2%.
O destaque: Pessoal: +9,1% (R$ 232,1 milhões).
Outro custo que subiu muito foi Depreciação e Amortização (+19,3%) – sem efeito caixa, e em valores absolutos o crescimento é bem menos representativo (R$ 26,7 milhões).

Isso leva a Margem Bruta dos Correios a despencar de 13,6% (já era baixa) para -1,6%.
O Resultado Bruto é negativo: – R$ 61,3 milhões.
Ainda que ajuste pela Depreciação, a Margem Bruta é mínima: 2,6%.
Praticamente break even, sem nem chegar nas despesas.

Olhando o DRE, já dá para ver que as despesas não trazem boas notícias.
As Despesas com Vendas e Serviços cresceram 9,8% (R$ 41,4 milhões).
As Despesas Administrativas cresceram 14,6% (R$ 156 milhões).
Apesar de parecer que no total as Despesas Operacionais só cresceram 1,7%, isso é bastante distorcido por uma Reversão de Contingências (R$ 225 milhões, não recorrente) dentro de Outras Receitas.

Em Despesas com Vendas e Serviços, os maiores destaques são:
Remuneração de Unidades Terceirizadas: +5,4% (R$ 22,1 milhões)
Provisão de Perdas: +R$ 19,8 milhões
Perdas: +R$ 6 milhões
A Nota Explicativa justifica o aumento na RUT pelo aumento de receita – suponho que seja o aumento de Encomendas, de 3,6%.
Não fica claro nas Notas de onde vem a variação de Perdas e Provisão de Perdas.

Nas Despesas Gerais e Administrativas, uma surpresa:
O principal aumento não foi em Despesas com Pessoal, que aumentou 1,8% (+R$ 13,5 milhões).
O principal aumento foi em Precatórios e RPVs: R$ 255,8 milhões (191%).
A empresa justifica isso nas Notas Explicativas dizendo que reflete a liquidação de obrigações judiciais, especialmente ações trabalhistas.

A queda nas Receitas e o aumento nos Custos e Despesas, mesmo considerando o crédito de reversão de provisões, leva a um Resultado Operacional negativo de R$ 1,47 bilhões no 1o trimestre de 2025.
Isso equivale a um aumento de 90% no prejuízo operacional em relação ao 1o trimestre de 2024.
A Margem Operacional foi negativa em 37,2%, uma piora de 20 p.p.

Depois disso, vem o resultado financeiro.
Como esperado, as receitas financeiras caíram, pois o caixa e as aplicações tiveram resgates em 2024 para cobrir a necessidade de caixa operacional.

Por outro lado, as Despesas Financeiras dispararam – em especial Juros e Multas, com aumento de R$ 112,5 milhões (140,6%).
O motivo?
Os Correios estão atrasando pagamentos de impostos e encargos trabalhistas.
A própria Nota Explicativa diz.


Tudo isso leva a empresa a registrar um prejuízo líquido de R$ 1,7 bilhões no 1o trimestre de 2025.
Isso é mais que o dobro do prejuízo do 1o tri de 2024 (R$ 801,2 milhões).
É um aumento de R$ 924,7 milhões – sim, quase R$ 1 bi.

“MAS É INVESTIMENTO!!”
Eu já expliquei, mas eu sou paciente.
Explico de novo.
INVESTIMENTO NÃO ENTRA NA DRE.
Vejam os investimentos dos Correios em 2025.
Primeiro: o saldo líquido é de resgate.
A empresa resgatou (mais) aplicações financeiras para cobrir o caixa.
Segundo: investimento em imobilizado e intangível foi de R$ 67 milhões.
BEM LONGE dos R$ 1,7 bi de prejuízo.

“MAS RESGATOU POUCO PERTO DO ANO PASSADO. O PREJU NÃO FOI MAIOR?”
É. Vejam o motivo.
A empresa “gerou” caixa operacional em contas muito específicas.
Contas a receber: está recebendo mais cedo dos clientes.

Agora a parte triste.
A geração de caixa dos Correios também veio de:
Fornecedores
Salários e Encargos Sociais
Convênio Postal Saúde

“E DAÍ?”
Daí que isso significa, em todos os casos, que o caixa operacional gerado pelos Correios veio de pedalar fornecedores, funcionários e encargos, e pagamento de benefícios.
A própria empresa diz.
Vejam as Notas Explicativas dizendo que “a programação dos pagamentos observa a disponibilidade financeira da Empresa”.
Eu unifiquei as Notas para facilitar a visualização.

Essa Nota eu deixei separada porque achei particularmente grave e simbólica.
A empresa está atrasando Encargos Trabalhistas – INSS.
Será regularizado “de forma gradativa, com créditos tributários e parcelamento”.

Ou seja, o caixa operacional gerado vem de pedalar passivos no balanço.
Não é sustentável.
Depois disso, ainda foi necessário resgate de aplicações, o que leva a mais um problema – e prometo que está no fim.
Vejam o Balanço Patrimonial dos Correios.
Destaquei a diminuição dos saldos de aplicações, tanto de Curto Prazo (“Circulante”) quanto Longo Prazo (“Não Circulante”).
De R$ 134 milhões em 31/12/2024, sobraram R$ 6,7 milhões em 30/03/2025.
“MAS TEM UMA LINHA DE INVESTIMENTOS ALI.”
Sim, são imóveis de propriedade da empresa.
Não adianta grande coisa para gerar caixa no curto prazo.


RESUMO DOS CORREIOS:
A Receita caiu, especialmente internacional.
Custos com Pessoal subiram 9%.
Margem Bruta negativa.
Despesas Financeiras crescendo (e tendem a crescer mais se a dívida seguir aumentando).
Geração de caixa operacional vem de pedalar pagamentos.
Investimentos NÃO justificam prejuízo.
Reserva financeira secando.
[…] pelo post dos Correios, resolvi trazer para cá o tuíte final do fio com a explicação sobre a Margem […]