Depois das estatais federais, essa semana fui ver as DFs de uma estadual de São Paulo: a CPTM.
Como a empresa também recebe subvenções, mais uma vez vamos olhar o reformulado.

De cara, já dá para ver algo preocupante:
Margem bruta negativa – ou seja, o que a empresa cobra não é suficiente para cobrir os custos de produção do serviço.

Ao contrário do caso da Telebras, isso não é revertido se tirar as depreciações (sem efeito no caixa).
Dois pontos a analisar:
1) A margem é negativa (e muito), mas melhorou no último ano, depois de uma piora em 2023.
2) Principais custos: Pessoal e Serviços de Terceiros.
Vamos ver a movimentação.

O crescimento da Receita Líquida da CPTM foi de 17,5% em 2024, enquanto o crescimento dos Custos foi de 3,4% (abaixo da inflação).
Isso fez com que a Margem Bruta melhorasse (no caso, ficando “menos negativa”).
Custos com Pessoal avançaram em 4,1%.
Custos com Serviços de Terceiros cresceram 8,4%, sendo que as principais contas que aumentaram foram Manutenção (13,5% – R$ 55 milhões) e Serviços de Transporte (30% – R$ 7,3 milhões).

A Margem Operacional continua muito ruim – negativa em 74,2%.
Ainda assim, houve uma melhora de 26,7 p.p. em relação a 2023, quando foi a Margem Operacional foi -100,9%.
Como as Despesas Administrativas totais cresceram 17,5% (igual a Receita Líquida), esse ganho vem de outro lugar.
Vamos chegar lá.

Despesas Administrativas não deveriam crescer em linha com a Receita – sua característica é mais fixa, menos variável.
Primeiro, vamos ver o que sempre olho quando analiso estatais:
Despesas com Pessoal.
O problema não é aí: o crescimento foi de 2,1% de 2023 para 2024.

O principal crescimento está em Serviços de Terceiros (111,1%), especificamente em “Bilheterias – ABASP”.
O aumento foi de 832,5%, tendo saído de R$ 6 milhões em 2023 para R$ 56,7 milhões em 2024.
Eu fui pesquisar e vi que a ABASP assumiu as bilheterias em 2024, porém não ficou claro para mim onde está a economia que mencionaram no anúncio.
Tem uma redução na conta de Sistema de Bilhetagem Eletrônica a partir de 2022, mas não tem uma correspondência clara em 2023, a não ser em Perdas.
A nota explicativa não é muito clara.

Além do ganho de Margem Bruta, a melhora da Margem Operacional vem de Ressarcimentos feitos pelo Governo do Estado de SP relacionados a ações trabalhistas em que funcionários da FEPASA pediram equiparação salarial.
A CPTM é o polo passivo da ação, mas esses valores são reembolsados pelo Estado.

O Resultado Financeiro tem uma melhora devido a uma queda nas despesas financeiras, especialmente relacionada à atualização de passivos atuariais.
Ainda assim, segue pior do que o apresentado em 2021, especialmente devido a juros e atualização de arrendamentos.

Em 2024, a CPTM teve margem líquida negativa de 83,9%, portanto um resultado péssimo em todos os sentidos – mesmo considerando a melhora de 30,7 p.p. em relação a 2023.
No total, desde 2021 a CPTM recebeu R$ 3,8 bilhões em subvenções.
Em valores absolutos (R$), o ano “menos ruim” da série foi 2022.

“AH MAS OS INVESTIMENTOS…”
As subvenções não são para investimentos, são para cobrir o fluxo de caixa operacional.
Vejam o DFC original e o Reformulado.
Destaquei a diferença que faz quando as subvenções estão impactando o Resultado Líquido (lado esquerdo) e quando não estão (lado direito).
Vejam que ela serve principalmente para cobrir o fluxo de caixa operacional.

Por outro lado, a CPTM está investindo.
O Fluxo de Caixa de Investimentos mostra que eles investiram R$ 372,9 milhões no último ano, e vem investindo acima da Depreciação todos os anos.
No caso da Telebras, apesar de boa parte do custo ser depreciação, o investimento não “renovava” o ativo.

“MAS SE NÃO VEM DE SUBVENÇÃO, VEM DE ONDE?”
A resposta está no Fluxo de Caixa de Financiamentos: aumento de capital social.
Este recurso (também do Governo do Estado de SP) é o que financia os investimentos e acaba também servindo para pagamento dos ativos arrendados.

Sobre o Balanço Patrimonial, não tem muito o que discutir.
A dívida que existe é apenas Arrendamento, já que o recurso para financiar a empresa vem do Estado de SP – tanto para cobrir os sucessivos prejuízos quanto para investimentos.
A posição de Caixa é relativamente estável, bem como os indicadores de liquidez – que são baixos, especialmente o Índice de Liquidez Corrente – que mede a liquidez de curto prazo da empresa.
Em resumo, tem uma pequena melhora em 2024, mas a empresa ainda está longe de ser sustentável de forma independente.
