Anteontem (16/07/2025) saiu a notícia que foi “resolvida” a questão do aumento do IOF.
Em resumo, o ministro Alexandre de Moraes validou o decreto do governo, revogando a cobrança sobre risco sacado.
Independente da discussão jurídica, isso tem um impacto forte no custo de capital das empresas.
Primeiro: o que é IOF?
IOF é o Imposto sobre Operações Financeiras.
Ele incide sobre crédito em geral (tem algumas exceções), operações de câmbio, seguros e investimentos.
Ou seja: é um custo extra embutido nas operações financeiras – só que não vai para a instituição financeira, vai para o governo.
Segundo: o que é Custo de Capital?
Em termos gerais (porque para isso precisaria de um fio específico), o custo de capital é qual o custo (ah vá) para a empresa se financiar.
Quanto maior o custo de capital, maior precisa ser o retorno dos projetos para justificar o investimento.
Por aí já dá para ter uma ideia do impacto.
O IOF para crédito PJ passou:
De: 0,38% + 0,0041% ao dia (teto de 1,88%)
Para: 0,38% + 0,0082% ao dia (teto de 3,38%).
Ou seja, a parte variável dobrou.
No caso de crédito PJ para empresas do Simples, tem uma diferença se o empréstimo foi até R$ 30k.
Passou de: 0,38% + 0,00137% ao dia (teto de 0,88%)
Para (crédito até R$ 30k): 0,95% + 0,00274% ao dia (teto de 1,95% ao ano).
Isso afeta diretamente o custo total dos empréstimos – o tal “CET” (Custo Efetivo Total), mesmo que a taxa de juros não mude.
“COMO É QUE É? FICA MAIS CARO SEM MUDAR TAXA DE JUROS?”
Isso mesmo.
Quando uma empresa toma um empréstimo, ela não paga apenas a taxa de juros.
Ela também paga outros custos, entre eles o IOF.
É por isso que, várias vezes, a taxa de juros é diferente do custo efetivo total do empréstimo.
Por exemplo:
Uma operação de capital de giro cotada a uma taxa de juros de 1,75% ao mês pode chegar a um custo efetivo total de 1,95% ao mês por conta de outros custos embutidos.
E o que isso significa para as empresas?
Significa que a taxa de retorno dos seus investimentos precisa ser maior para que valha a pena investir.
Lembrando: taxa de retorno é diferente de margem de lucro.
A taxa de retorno é influenciada pela margem de lucro, mas não é a mesma coisa.
“PERAÍ, EXPLICA ISSO DIREITO.”
A taxa de retorno é um indicador financeiro que mostra quanto um projeto de investimento retorna para o investidor em relação ao capital investido.
Exemplo: se o custo de capital é 15% ao ano, e o projeto promete retorno de 12%, ele destrói valor.
Como regra básica, um projeto de investimento deve ser aceito se a taxa de retorno for superior ao custo de capital.
Logo, se o custo de capital subiu, isso significa que o retorno exigido também sobe.
A tendência? Redução de investimentos.
Além disso, o aumento do IOF também afeta diretamente empresas que são intensivas de capital de giro.
Isso prejudica empresas de setores como varejo, por exemplo, que em geral tem margem mais baixa.
Aumentando o custo de capital, isso também tem um impacto direto no valuation das empresas.
Não vou entrar em detalhes muito técnicos neste fio, mas o valor da empresa é basicamente uma função dos fluxos de caixa futuros e do custo de capital.
Quando o custo de capital aumenta, os fluxos de caixa futuros (o “retorno” futuro em valor monetário) são descontados a uma taxa maior.
Isso significa um valor presente mais baixo.
Na imagem, um exemplo didático com valores fictícios.

Por fim, um comentário muito rápido sobre o argumento que o IOF é um imposto que só quem tem que se preocupar é “dono de cobertura”.
Empresas grandes costumam ter acesso a mercado de capitais, inclusive com captação internacional, e não são reféns de operações de crédito “comuns”.
A chance dessas empresas conseguirem reduzir o impacto é muito maior do que as empresas pequenas e médias.
Aliás, isso nem deveria ser uma dúvida – só ver a mudança para créditos de até R$ 30k no Simples Nacional para saber quem é impactado.
Resumo:
O aumento do IOF encarece o crédito, reduz o valor das empresas e trava novos investimentos.
O impacto não é penalizar os “donos de cobertura”, mas sim quem já tem menos acesso a crédito e menos margem para absorver custos.