Há algum tempo li uns artigos sobre algo que é citado com (alguma) frequência, mas nunca tinha ido ler no original: o efeito Dunning-Kruger.
O que acontece quando somos ignorantes quanto à nossa própria ignorância?
Em 1999, os professores Justin Kruger e David Dunning, do Depto. de Psicologia da Cornell University, publicaram um paper chamado:
“Unskilled and Unaware of It: How Difficulties in Recognizing One’s Own Incompetence Lead to Inflated Self-Assessments”
No artigo, os autores propuseram que as pessoas tendem a superestimar suas habilidades.
E por que isso acontece?
Por um problema duplo quando as pessoas tem pouca habilidade em alguma área:
1) Erro em conclusões e decisões
2) Incompetência em perceber estes erros
O gráfico mais famoso para representar o efeito Dunning-Kruger, e que não aparece nem em Kruger & Dunning (1999), nem em Dunning (2011) é o seguinte:

A interpretação é simples.
A confiança aumenta muito quando a pessoa aprende um pouco sobre o tema, gerando uma falsa impressão de competência.
Conforme a pessoa estuda, ela percebe que não sabe tanto assim e a confiança cai até aumentar de novo na fase “expert”.
Ou seja, no começo de qualquer estudo, nós “não sabemos o que não sabemos”, e isso nos torna vítimas de vieses – tem muita coisa desconhecida e não temos ainda conhecimento para saber disso.
Conforme o estudo avança, aprendemos o que não sabemos.
Até aí, é o famoso “quanto mais eu estudo, menos eu acho que sei”.
Mas os papers ficam mais interessantes.
Com base na teoria, o estudo dos “low performers” não tem grandes surpresas. Eles superestimam seus resultados.

O gráfico mostra que os participantes no menor percentil (da esquerda) tem um gap maior entre percepção (eixo Y) e resultado objetivo (eixo X).
A situação muda ao analisar os “top performers” – lado direito do gráfico.
Os “top performers” têm habilidades técnicas para ter bons resultados e para saber quando estão certos. O que eles não conseguem é prever o resultado de outras pessoas.
Os “top performers” tendem a acreditar que os outros têm o mesmo nível de conhecimento que eles, portanto superestimam a habilidade alheia.
Em outras palavras: top performers acreditam que todos chegam às respostas corretas com a mesma facilidade que eles.
Dunning (2011) propõe vários tópicos para pesquisa futura, inclusive investigar características individuais e seus efeitos na metacognição.
Observação: o Efeito Dunning Kruger é uma hipótese e que ainda não tem evidência suficiente para dar robustez à teoria. A teoria é interessante, mas há quem argumente que muito do que está lá pode ser explicado por vieses estatísticos como regressão à média.
Deixo abaixo o link para os estudos originais.
Se alguém quiser e não tiver acesso, é só me pedir.
Kruger, J., & Dunning, D. (1999). Unskilled and unaware of it: How difficulties in recognizing one’s own incompetence lead to inflated self-assessments.Journal of Personality and Social Psychology, 77(6), 1121–1134. https://psycnet.apa.org/doi/10.1037/0022-3514.77.6.1121
Dunning, D. (2011). The Dunning–Kruger Effect. In Advances in Experimental Social Psychology (Vol. 44, pp. 247–296). Elsevier. https://doi.org/10.1016/B978-0-12-385522-0.00005-6