Análise Correios – 1 Semestre 2025

SAÍRAM OS RESULTADOS SEMESTRAIS DOS CORREIOS!

O prejuízo não é surpresa, mas não deixa de impressionar:

Em 6 meses, o prejuízo foi de R$ 4,37 bilhões.

Só no 2 trimestre, foi de R$ 2,6 bilhões.

Para referência: o prejuízo ANUAL de 2024 foi de R$ 2,6 bilhões.

Antes de começar a análise em si, vou colocar aqui um comparativo apenas para dar uma magnitude do que significa o prejuízo.

E repetindo:

Nada disso é investimento.

Investimento não é reconhecido em resultado, e sim em Balanço Patrimonial e Fluxo de Caixa.

De cara, o principal destaque é o aumento de R$ 3 bilhões no prejuízo.

“E DE ONDE VEM O PREJUÍZO?”

Bora ver – a análise vai ser do semestral, pois assim comparamos um período maior que apenas trimestres.

Vamos começar abrindo as Receitas.

Se até setembro/2024 e até o anual de 2024 a “taxa das blusinhas” ainda explicava menos do prejuízo, agora a queda na receita é bem relevante.

A receita classificada como Internacional dos Correios caiu 61,3% (R$ 1,29 bilhões) no comparativo entre semestres.

Só que os custos dos Correios não caíram.

Mesmo com a queda de 12% na Receita Líquida total, os custos aumentaram em 1,2%.

Parece pouco, mas isso fez com que o Resultado Bruto caísse não só o equivalente à queda na receita, mas também o equivalente ao aumento no custo.

E de onde vem isso?

O principal aumento é Custos com Pessoal, que subiram 9,3%, o que corresponde a R$ 477 milhões.

A justificativa dos Correios é que o aumento é por conta de “reajuste salarial e outros benefícios aos empregados empregados, estabelecidos no ACT 2024/2025.

A Nota fala em reajuste linear de 4,11%, o que é dentro do esperado dada a inflação, mas tem um extra:

O “resgate da cláusula sobre a gratificação de 70% de férias”.

Isso se refere a um valor extra (já incluindo o 1/3 de férias) que é pago para todos os funcionários referente às férias a partir de 01/01/2025 – exceto aqueles admitidos após o ACT 2024/2025.

Outros custos relevantes, de natureza mais variável, até tiveram queda, mas isso não foi suficiente para superar o aumento de Custos com Pessoal.

Depreciação e amortização não têm efeito caixa, mas isso está longe de resolver o problema de fluxo de caixa dos Correios – vamos chegar lá.

A queda de Receitas (12%) com aumento de Custos (1,2%) faz com que a ECT (Correios) tenha uma queda brutal de Margem Bruta, de 15,3% (já não era aquelas coisas…) para 2,8%.

A empresa está praticamente no Break Even sem nem chegar das Despesas Operacionais.

E os problemas continuam.

A conta mais representativa de Despesas Operacionais é Despesas Gerais e Administrativas, que soma R$ 3,4 bilhões – e cresceu 74,3% (R$ 1,5 bi) na comparação entre semestres.

Apesar da representatividade de Despesas com Pessoal (R$ 1,58 bilhões em 6 meses), o aumento foi de 4,6% entre períodos – em linha com a inflação.

O principal aumento foi em outra conta, que no 1o semestre de 2025 foi tão representativa quanto Despesas com Pessoal:

Precatórios.

A ECT (Correios) reconheceu no DRE o valor de R$ 1,59 bilhões em precatórios no primeiro semestre de 2025.

Segundo a empresa, isso é devido a decisões judiciais definitivas, especialmente de natureza trabalhista.

(Off topic: será que esses precatórios apareceriam no balanço de um certo banco? Não sei).

No geral, as Despesas Operacionais dos Correios subiram 51,6% no 1o semestre de 2025 em relação ao 1o semestre de 2024.

Isso leva a um prejuízo operacional de R$ 3,8 bilhões e uma margem operacional negativa em 46,5%.

No mesmo período de 2024, o prejuízo operacional foi de R$ 1,2 bi e margem negativa em 13,3%.

O aumento na conta de Outras Receitas é, na verdade, a conversão de provisões de contingências para precatórios.

SEGUIMOS, JÁ ESTOU ACABANDO O DRE!

O próximo grupo de contas é o Resultado Financeiro, que piorou em 328% na comparação entre períodos.

A queda na receita financeira é, principalmente, redução de juros de aplicações – a empresa consumiu quase toda a reserva de que tinha em aplicações financeiras.

Em despesas financeiras, o destaque é para Juros e Multas (devido a atrasos de pagamentos) e Encargos (devido ao endividamento).

Somando, o valor é de R$ 501,6 milhões – sim, mais de meio bilhão em 6 meses.

Tudo isso leva ao prejuízo líquido de R$ 4,3 bilhões no semestre, um aumento de R$ 3 bilhões em relação ao 1o semestre de 2024.

Somando de 2023 até junho de 2025, o prejuízo total dos Correios foi de incríveis R$ 7,6 bilhões.

AGORA TEM O CAIXA!

Se olhar de bate pronto, até poderia parecer sob controle – o consumo de caixa operacional foi de R$ 265,6 milhões para o prejuízo de R$ 4,37 bilhões, né?

NÃO É BEM ASSIM, NÃO!

Quando abrimos o Fluxo de Caixa Operacional dos Correios, fica visível de onde está vindo a geração de caixa.

Atrasos de pagamentos, especialmente nas seguintes contas: Fornecedores

Salários e Encargos Sociais (no caso, os encargos, especialmente INSS)

Impostos e Contribuições

Convênio Postal Saúde

“Outras”

Lembram daquele valor gigante de Juros e Multas na DRE (R$ 426,9 milhões)?

Então, efeito dos atrasos.

Isso também pode ser visto no balanço patrimonial, no passivo.

Vejam o aumento das contas.

Em especial, vejam a conta de INSS dos Correios.

Já falei isso no fio do 1o trimestre e repito: Simbólico ver a estatal atrasando o recolhimento de INSS patronal.

Segundo a empresa, “atrasos nos recolhimentos serão regularizados de forma gradativa, com os créditos tributários e parcelamento”.

“MAS E OS INVESTIMENTOS??”

Ok, vamos falar do argumento favorito para engabelar leigos.

Como eu já expliquei várias vezes nos fios, investimento não afeta resultado, mas afeta caixa.

No caso dos Correios, nem isso afetou direito.

O Fluxo de Caixa de Investimento dos Correios foi negativo em R$ 47 milhões – baixo, porque teve R$ 101 milhões em resgate de aplicações .

O investimento em Imobilizado e Intangível foi de R$ 163 milhões.

Não dá para levar a sério o argumento de que o “rombo” é por causa de investimentos quando o prejuízo foi de R$ 4,37 bilhões, convenhamos.

Mas os Correios não financiaram o prejuízo só pedalando pagamentos e com resgate de aplicações.

Primeiro que as aplicações praticamente secaram.

O saldo, que já vinha baixando, era de R$ 134 milhões em 31/12/2024 e passou para R$ 7 milhões em 30/06/2025.

A solução foi aumentar a dívida.

Os Correios captaram R$ 1,5 bilhão em bancos no último ano (desde jun/2024).

O primeiro problema é o mais óbvio:

Dívida, para ser saudável e de baixo risco, se paga com resultado operacional – caso contrário, o recurso tem que vir de aporte ou de novos empréstimos.

A ECT (Correios) não está gerando lucro operacional nem para cobrir os juros, que dirá para pagar a dívida.

O segundo é a composição da dívida:

O prazo é curto – o vencimento mais longo é Nov/2026.

O custo é alto – a dívida mais alta chega a aproximadamente 22% ao ano.

Ou seja: a enrascada é grande, e a tendência é o problema de caixa piorar.

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