Países que lideraram o excesso de óbitos na pandemia

Algo importante, mas pouco comentado por estas terras, é o excesso de óbitos ao longo da pandemia comparado com os óbitos oficialmente atribuídos à Covid.

Eis aqui um infográfico que sintetiza os países com maior excesso relativo (e também o índice de óbitos por Covid oficialmente registrado). Notem que, quanto maior a barra, pior foi a qualidade dos registros de mortalidade.

O excesso de óbitos é a diferença entre os óbitos esperados (calculados por via estatística, com base no histórico dos últimos 5 ou 10 anos) e os óbitos que realmente ocorreram.

Diferente de doenças normais, que são contabilizadas num índice relativo por ano, para pandemias é de praxe considerar o índice relativo acumulado ao longo da sua duração total (que pode ser de vários anos).

Vale lembrar que, para os epidemiologistas, o real saldo de uma epidemia ou pandemia é o excesso de óbitos – por vários motivos:

  1. Em situações de saturação do sistema do registro de mortalidade, é esperado que exista uma queda na qualidade dos registros. Nem todos os óbitos são atribuídos às causas corretas. Isto é um problema histórico conhecido.
  2. Há países com sistema de registro de mortalidade muito ruim mesmo em épocas normais (vide Índia, África subsaariana). Nestes, o excesso de óbitos não é medido diretamente (via total de óbitos), mas estimado por via estatística.
  3. Por outro lado, há países com bom sistema de registro de óbitos (Rússia, China), mas que optaram em artificialmente manter seus índices por Covid baixos. No caso da Rússia, é até possível chegar ao total de óbitos; já no da China, não. Para efeito de harmonização e comparabilidade, os dados considerados aqui são as estimativas do excesso, não a contagem.
  4. Mesmo eventuais aumentos de óbitos contabilizados em outras causas que não a doença em surto epidêmico são considerados como sendo causados indiretamente pela doença.

Um ponto digno de nota é o quanto os registros de óbitos atribuídos à Covid no Brasil são relativamente próximos ao índice de excesso (parecido ao dos EUA) – sinal de um sistema com boa qualidade de dados.

Vale uma observação importante: os dados acima se referem ao índice cru (óbitos/100 mil habitantes). Para uma comparabilidade melhor, o ideal seria harmonizar todos eles pela idade (devido aos perfis demográficos muito diferentes entre países da lista – já que a Covid matava proporcionalmente mais os mais idosos) – mas este é um nível de detalhamento infelizmente indisponível quando usamos o excesso de óbitos estimado (já para o excesso de óbitos contado, é possível, mas teríamos uma lista bem mais restrita de países).

Vale também lembrar que os dados usados vieram de um dos melhores repositórios de dados existentes na atualidade, o Our World in Data:


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