Eu já sabia que associações de aposentados usavam assinaturas eletrônicas para angariar novos membros – mas agora, com a ajuda de um seguidor que está processando uma delas, sei do procedimento exato – com um diferencial: é usado por quatro associações.
A ANDDAP, AAPEN, MasterPrev e a Amar Brasil usam assinaturas digitais para “autenticar” seus contratos – via sites que, à primeira vista, parecem sérios e com validade jurídica.
O inusitado é que estes 4 sites usam o mesmo webdesign e o mesmo código – em suma, é o mesmo sistema de assinaturas, em domínios distintos.
O que está por baixo é um serviço chamado PowerSign, da PowerBI Tech, que parece ser do Grupo Hinnova.
Cada associação tem o seu próprio domínio (signpuf.click, assinar.link, assine.pro, yodoc.click ), mas a validação😏 das assinaturas ocorre através de um terceiro. Nota: este terceiro aparece no estatuto de uma das entidades (não posso revelar maiores detalhes).
Aqui um contrato gerado pelo sistema da ANDDAP. Contém IP, hashes, geolocalização, nome, CPF, endereço e um suposto e-mail do aposentado.
O problema: IP, hashes, geolocalização e mesmo o e-mail não provam que foi a própria pessoa que assinou digitalmente. No caso citado, a associação INVENTOU um e-mail (contendo nome, sobrenome e ano de nascimento para ficar mais verossímil), mas que nem mesmo existe no Gmail.
Ou seja: estes sites permitem criar vínculos com aposentados no atacado. Não é à toa que a ANDDAP, por exemplo, pulou de zero para R$ 10 milhões de descontos (equivalente a uns 200 mil filiados) em um mês.
Alguns juízes têm aceitado estes contratos como prova do vínculo contratual entre as associações e aposentados, mas há um problema: desde março de 2024, o INSS exige biometria nas assinaturas eletrônicas (porque viram que estava degringolando) – que a PowerSign não tem.
in.gov.br/web/dou/-/inst…
Agora vejam o início dos descontos:
AAPEN: dez/21
AMAR: dez/22
MasterPrev: fev/24
ANDDAP: set/24
No caso da ANDDAP, de nada adiantou ou INSS apertar as exigências (via biometria). Ela começou a operar DEPOIS da instrução normativa usando um procedimento que oficialmente não é válido.
Ou seja, tudo leva a crer que a instrução normativa do INSS é letra morta; é possível trazer novos membros por qualquer meio imaginável – simplesmente porque o INSS não tem estrutura para auditar a autenticidade dos contratos.
E agora alguns fatos interessantes sobre estas associações:
– os 3 telefones de contato da MasterPrev foram desativados
– o WhatsApp da ANDDAP consta como inexistente. Todas as unidades dela funcionam em espaços de coworking. Lembrando que a ANNDAP arrecada mais de R$ 10 milhões/mês.
– a AmarBrasil tem WhatsApp ativo, mas já não acessam mais. As filiais ficam em espaços de coworking. No site, eles mostram a estrutura administrativa deles não em fotos, mas via renderizações
– AAPEN: telefones não atendem mais
– O diretor da Amar Brasil, Américo Monte, tem parentes na diretoria da MasterPrev – e, vejam só, é também dono de empresas que oferecem crédito consignado.
metropoles.com/sao-paulo/pf-i…
Para finalizar num tom melancólico, nenhuma destas associações está entre as que tiveram bens bloqueados no último dia 9 de maio.
Calma que piora: tanto a ANDDAP quanto a MasterPrev já estão peticionando nos processos que não têm como arcar com as decisões judiciais.
Não sei definir bem, mas senti um incômodo extra ao redigir este post.
“Calma que piora: tanto a ANDDAP quanto a MasterPrev já estão peticionando nos processos que não têm como arcar com as decisões judiciais.”
Que tristeza isso. Os aposentados e suas famílias ficarão sem nada 🙁 que problema difícil de solucionar. Desesperador!
É incrível que um sistema tão frágil como este que permite descontos do INSS possa ter existido até aqui – e continuar existindo, a despeito de tudo o que foi descoberto.