Hoje falarei sobre algo pouco conhecido: o milagre que aconteceu na Tanzânia durante a pandemia.
Qual foi o milagre? Um índice de óbitos por Covid incrivelmente baixo.
O responsável? O então presidente, John Magufuli.

Mas o que ele fez?
Logo no início da pandemia, ele, um católico devoto, impediu o fechamento de igrejas, dizendo que “a cura estava em Jesus”.
Em abril de 2020, ele anunciou que a “doença do coronavírus fora eliminada graças a Deus”. Em paralelo, ele mandou usar testes PCR em cabras, ovelhas, óleo de carro e mamão – e, segundo ele, em todos eles, o resultado foi positivo, o que seria a prova que os testes davam resultados falsos.
Por isto, a Tanzânia deixou de fazer testes de Covid a partir deste mesmo mês de abril. Resultado? O milagre: zero novos casos e zero novos óbitos (até então, teriam sido apenas 21).

A partir de julho/20, divulgação de informações sobre a pandemia que fossem contrárias à narrativa governamental passou a ser considerada crime.
Em janeiro de 2021, o presidente disse que vacinas eram perigosas, e sugeriu inalações e remédios fitoterápicos. Só em fevereiro de 2021 John Magufuli passou a sugerir o uso de máscaras faciais (até então era contrário) – mas apenas as produzidas na Tanzânia.
No final daquele mês ele desapareceu e morreria em meados de março de 2021 – segundo fontes oficiais, por problemas cardíacos, mas havia rumores que seria por Covid.

Sua vice, Samia Suluhu Hassan, assumiu em seguida e abandonou o discurso negacionista do ex-presidente morto, tanto que permitiu o início da vacinação (que viria a deslanchar só em meados de 2022, e ainda assim atingindo apenas 50% da população).


Os testes PCR, apesar de autorizados, foram muito pouco usados na prática: pouco mais de 400 mil testes para uma população de 66 milhões (o Brasil, em comparação – que testou mal – fez mais de 70 milhões de testes).

O resultado? Com poucos testes, praticamente não houve novos casos e novos óbitos atribuídos à Covid. Dos tais 21 óbitos estacionados desde abril/20, o número aumentou para 845 no acumulado – um ridículo índice de 1,3/100 mil.

Assim, o mistério por trás do milagre da Tanzânia está resolvido: um presidente negacionista que não testou nada seguido de uma nova presidente que não testou quase nada. Assim fica fácil ter um excelente desempenho, certo?
Por isto, fica aqui o alerta: quando você compara o desempenho de países na pandemia usando o índice OFICIAL de óbitos, você não está do lado da ciência – você apenas estará validando o discurso de países negacionistas e com baixa testagem como a Tanzânia.
Nota: a Tanzânia não foi exceção no mundo. Dezenas de países (incluindo aí alguns muito populosos, como China, Índia, Rússia e México) tiveram enorme subnotificação nos óbitos atribuídos oficialmente à Covid.