Há poucos dias postei a resenha de um artigo que li da EBFin sobre ETFs.
Um dos pontos que comentei diz respeito à liquidez dos ativos.
Mas o que é liquidez em finanças?
Bora entender.
A liquidez é um conceito chave tanto em análise de balanços quanto em investimentos e avaliação de empresas.
A definição é a mesma, o que muda é principalmente a aplicação.
“TÁ, MAS O QUE É?”
Liquidez é a capacidade de comprar ou vender um ativo rapidamente e com pouco impacto no seu preço.
OU SEJA:
É a facilidade com que você pode converter um ativo em dinheiro sem perder valor.
Vou simplificar e dar um exemplo.
Para facilitar, vamos assumir um ambiente livre de risco de crédito e de riscos específicos dos ativos.
Imagine que você tenha em seu portfólio títulos de renda fixa cujo emissor (o devedor) garanta a recompra ou o resgate quando você quiser – como CDBs pós-fixados com prazo de resgate e liquidação no mesmo dia.
Neste caso, a liquidez é imediata, e o custo da liquidez é basicamente zero – você resgata exatamente o valor presente do título quando quiser sem afetar seu preço.
Dizemos que esse é um ativo de “alta liquidez”.
Se você tem ações de uma grande empresa listada na bolsa e com grande volume de negociações e quiser vender (tipo Petrobras ou Vale), muito provavelmente você vai conseguir fazer isso rapidamente e a um preço próximo ao valor cotado.
É outro exemplo de ativo líquido e com baixo custo de liquidez.
Ações de empresas menores e menos negociadas, por outro lado, têm uma diferença (o “spread”) entre o preço da melhor oferta de compra (“bid”) e a melhor oferta de venda (“ask”).
Esse “bid-ask spread”, essa diferença, representa o custo da liquidez.
Isso não é só teórico. Diversos estudos, em especial de Amihud e Mendelson (1986; 2008), documentaram esse desconto nos EUA.
Minardi, Sanvicente e Monteiro (2006) também documentaram o custo de iliquidez na bolsa brasileira.
Um exemplo ainda mais claro sobre um ativo de baixa liquidez:
Vamos supor que você tem uma propriedade rural em uma área remota e precise vender.
Vender essa propriedade pode levar meses ou até anos, e você pode precisar oferecer um desconto significativo para encontrar um comprador.
Esse é um exemplo de um ativo ilíquido – ou seja, ao negociar este ativo, existe um “desconto de iliquidez” associado à transação.
E por que isso importa?
Dá para resumir em 3 motivos:
1) Flexibilidade Financeira: ativos líquidos permitem que investidores ajustem suas carteiras rapidamente em resposta às mudanças do mercado ou às necessidades pessoais, sem grande impacto nos preços.
Isso oferece maior flexibilidade e segurança financeira.
2) Custos de Transação: ativos menos líquidos geralmente acarretam custos de transação mais altos.
Vender rapidamente um ativo ilíquido pode exigir um desconto significativo, impactando o retorno total do investimento.
3) Risco e Retorno: investidores exigem retornos mais altos para compensar os riscos associados à iliquidez.
Isso porque, ao investir em ativos ilíquidos, eles estão assumindo o risco de não poder vender o ativo rapidamente em caso de necessidade.
Este é um resumo (bem resumido) de uma visão de liquidez do ponto de vista da avaliação de ativos.
Em um próximo post, vou resumir o conceito de liquidez no contexto de análise de demonstrações financeiras.
Referências:
Amihud, Yakov, and Haim Mendelson. 1986. “Liquidity and Stock Returns.” Financial Analysts Journal 42 (3): 43–48. https://doi.org/10.2469/faj.v42.n3.43.
Amihud, Yakov, and Haim Mendelson. 2008. “Liquidity, The Value of the Firm and Corporate Finance.” Journal of Applied Corporate Finance 20 (2): 32–45.
Liu, Weimin. 2006. “A Liquidity-Augmented Capital Asset Pricing Model.” Journal of Financial Economics 82 (3): 631–71. https://doi.org/10.1016/j.jfineco.2005.10.001.
Minardi, Andrea, Antonio Z Sanvicente, and Rogério C Monteiro. 2006. Bid-Ask Spread And Liquidity Premium In Brazil. INSPER Instituto de Ensino e Pesquisa. https://researchgate.net/publication/5104832.
Silber, William L. 1991. “Discounts on Restricted Stock: The Impact of Illiquidity on Stock Prices.” Financial Analysts Journal 47 (4): 60–64.