Resenha – ETFs Dominados

Na última semana de julho, estive no EBFin realizado no Insper e vi um artigo interessante sobre o investimento em ETFs.

Será que os investidores escolhem as melhores opções dentre fundos que seguem o mesmo índice?

Para começar: o que são ETFs?

ETF (Exchange Traded Funds) são fundos de investimento negociados em bolsa.

Apesar de existirem ETFs de vários tipos de ativos, os mais comuns são fundos de ações que seguem algum índice (o “benchmark”).

Isso significa que o ETF busca reproduzir o retorno do índice de referência.

Ou seja: se o fundo segue o IBOVESPA, seu retorno será próximo do IBOVESPA.

Se o fundo segue o S&P 500 (dos EUA), seu retorno será próximo disso.

A negociação dos ETFs é basicamente igual a de ações.

O investidor entra no site da corretora e compra (ou vende) quando quiser.

Dividendos, em geral, são reinvestidos no próprio fundo automaticamente.

Os fundos são geridos por bancos, corretoras etc, que por sua vez rebalanceiam a carteira para que o retorno acompanhe o do índice de referência.

Em resumo, os ETFs são uma opção para investimento em renda variável que possibilitam que o investidor adquira carteiras diversificadas a um custo inferior ao de fundos tradicionais – os famosos fundos que (geralmente) cobram 2% de taxa de administração e 20% de taxa de performance.

Dito isso, bora pro estudo.

As questões de pesquisa propostas pelos autores são:

Será que todos os ETFs de ações são igualmente bons?

E será que os investidores sabem escolher?

Nos dois casos: aparentemente, não.

O foco do estudo são ETFs de ações (os mais comuns) que acompanham índices pré-estabelecidos, como o IBOVESPA, IBrX-50, Small Caps, S&P 500 etc.

Estes fundos têm baixos custos de rebalanceamento e pesquisa, pois seguem uma lista de ações pré-definida.

O estudo analisou 58 ETFs que seguem 38 índices nacionais e internacionais.

Usando dados de jan/2012 a jun/2022, os autores identificaram diversos “ETFs dominados”.

São fundos altamente correlacionados com outros, porém com liquidez mais baixa (menos negociados) e custos significativamente superiores aos seus pares.

Surpreendentemente (ou não), muitos investidores seguem alocando recurso nesses ETFs dominados.

De janeiro de 2012 a junho de 2022, eles representaram, em média, 6,2% do patrimônio líquido total dos ETFs analisados.

Nos últimos 3 anos de análise, isso se agrava.

A participação sobe para 20,4% do patrimônio total, o que corresponde a R$ 5,8 bilhões sob gestão.

Os autores definiram um ETF como sendo dominado se:

1) Os retornos estiverem correlacionados (95%, 97,5% e 99% de correlação) em 6 meses.

2) Tiverem menor liquidez.

3) Sua taxa de administração for mais alta.

O estudo mostra que, principalmente a partir de 2019, com o crescimento do mercado de ETFs, surgiram muitos ETFs dominados.

Estes fundos representam cerca de 20% do PL total dos ETFs analisados e entre 10% a 20% do total dos fundos.

A tabela abaixo (elaborada pelos autores do artigo) mostram os fundos dominados e quantas vezes eles aparecem como dominados no período (de um total de 126 meses).

O que aparece com mais frequência é o Caixa ETF Ibovespa.

“MAS EU AINDA NÃO ENTENDI ESSA HISTÓRIA DE DOMINADO”.

Vou explicar com um exemplo.

Imagine que um ETF, o XPTO11, siga o índice IBOVESPA.

O IBOVESPA sobe ~1%, o ETF sobe ~1%.

Esse ETF tem uma taxa de administração 0,5% ao ano.

Aí tem outro ETF, o DOOM11, que TAMBÉM segue o IBOVESPA.

Ele tem basicamente o mesmo retorno do XPTO11, mas a taxa de administração dele é 0,8% ao ano.

O DOOM11 é um ETF Dominado.

O que o estudo mostrou é que a proporção de ETFs dominados é alta, e tem crescido conforme o mercado de ETFs também cresce.

Ou seja: investidores estão pagando mais para ter um retorno bruto parecido com outros ETFs que seguem o mesmo índice.

(Tabela retirada do artigo)

O artigo também busca entender porque os investidores alocam recurso em fundos dominados.

Como muitos ETFs dominados são administrados por bancos de varejo mais tradicionais, a hipótese é que poderia ocorrer uma alocação nesses ETFs por inércia dos clientes.

Os coeficientes da variável Banco (uma dummy para os bancos tradicionais), apesar de positivos, não têm significância estatística para sustentar essa hipótese.

Pessoalmente, eu senti falta de uma interação entre as variáveis Banco vs Dominado Ajustado para capturar o efeito simultâneo.

(Tabela retirada do artigo)

Mesmo sem uma explicação definitiva sobre o porquê dos investidores tomarem essas decisões, eu achei o artigo bem interessante e aplicado.

É particularmente importante para alertar os investidores que não basta simplesmente comprar ETF achando que é tudo igual porque seguem um índice pré-determinado de ações.

Só para dar um contexto, isso não acontece só no Brasil.

Um estudo de Brown et al (2021) sobre o mercado dos EUA (de 2000 a 2018) identificou que ETFs dominados correspondem a 36% de todo o Patrimônio Líquido de ETFs analisados, e estimou um custo agregado bastante alto para os investidores.

Algo parecido acontece na Alemanha (Bhattacharya et al. 2017), onde investidores do varejo não melhoram a performance dos seus investimentos ao aplicar recursos em ETFs, porque não conseguem selecionar os fundos com melhor custo-benefício.


Referência do artigo:

Chague, F., & Luna, L. (2024). Dominated ETFs. Brazilian Review of Finance, 22(2), 15–41. https://doi.org/10.12660/rbfin.v22n2.2024.91320

Referência dos outros dois citados:

Bhattacharya, U., Loos, B., Meyer, S. e Hackethal, A. (2017). Abusing ETFs, Review of Finance 21(3): 1217–1250.

Brown, D. C., Cederburg, S. e Tower, M. (2021). Dominated ETFs, Technical report, University of Wisconsin-Madison.

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